e sempre esta casa vazia de saudades e de mar
escrevo-te
de um lugar que não existe
escrevo-te
de um lugar que não existe porque sem ti sou uma terra sem lugar uma casa vazia
de saudades lua sem febres mar gaivotas nem casas para incendiar que a tua pele
era um incêndio e por isso escrevo-te do pôr-do-sol que éramos e não existe e só
a solidão
e
a solidão não se desaprende, sabias? digo: a solidão não se desaprende nem na
morte
por
isso escrevo-te destes dias que pedem nevoeiro relâmpagos inteiros invernos por
inventar em cidades saqueadas úteros vazios exércitos de orgasmos por resgatar
e escrevo-te de todos os lugares, os nossos lugares, que não existem e de que
voltei inteiro que só de ti não soube voltar e Veneza não existe Madrid não
existe o Alentejo não existe nas planícies de superfície mais ou menos lunar de
que soube voltar inteiro
só
de ti não soube voltar
das
tuas mãos pequeninas feitas para beijar o frio que só existia para eu te poder
abraçar e beijar e os autocarros felizes comigo a ler para ti e as árvores
felizes os bancos de jardins felizes contigo deitada e eu a ler para ti poemas
cartas pequenos versos que nasceram de ti a mexer no meu cabelo
e
o para sempre nas fotografias foi sempre teu
e
eu: diz cheese e tu para sempre em vez de cheese por isso o para sempre nas
fotografias foi sempre teu e o para sempre nas calçadas que gastámos foi sempre
teu o para sempre em todos os para sempre nas mãos dadas nos beijos deixados
nos vãos das escadas nos aeroportos nos estacionamentos dos aeroportos nas chegadas
foi sempre teu
e
esta casa a que estou sempre a chegar
e
estou sempre a ver-te e não quero e não quero pensar nas calçadas e em quando
nos deitámos e me disseste não preciso do mundo para nada e o fumo do teu
cigarro é minha testemunha e tu disseste para sempre e o céu estrelado é minha
testemunha mais as estrelas que já não existem
e
respirar fazia sentido o amanhecer das flores fazia sentido e os equinócios do
coração faziam sentido na sombra dos planetas e no voo magro das estações de
todos os poemas por escrever
e
sempre esta casa vazia de saudades e de mar
e
continuo a adormecer depois de ti e só consigo dormir contigo para sempre e nenhuma
outra, juro, que só consigo dormir contigo para sempre e este para sempre é meu
que só consigo dormir contigo e acordar com os teus pés fósforos nos meus os
teus beijos no meu ombro olhos fechados lábios secosmolhados no meu ombro os
teus braços a expandirem o mundo na tua mão a minha cintura a acordar contigo
e
respirar fazia sentido
e
continuo a apanhar as cuecas que deixas pelo chão órfãs meias órfãs eu órfão
deixado pelo chão para sempre a receber os teus beijos pintados num espelho de
batom
e
não pertenço a mais ninguém e não posso amar mais ninguém e nunca hei-de fazer
ninguém feliz,
só
dor tenho para dar dor e uma particular maneira de sofrer e ser infeliz e de
morrer miseravelmente em alguns poemas tristes
por
isso digo: não se desaprende a solidão da forma em que eu te pertenço completamente:
por isso digo: devolve-me
L I N D O :)*
ResponderExcluir;)))Obrigado, Anita!
ResponderExcluirA continuares a escrever assim ainda me inspiras a fazer o mesmo... :) Adorei!!!
ResponderExcluirespero que isso seja uma promessa...;)))
ResponderExcluirJ'adore... ;)
ResponderExcluirnão sabes já que não me podem falar em francês!sou fraco para essas coisas!
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