o mar quebrou-se


há portas que tens que abrir para eu saber entrar

perguntas-me: onde estão as estações?

dizes que o verão pôs o chapéu e vestiu o fato do inverno, que a primavera se escreve com minúscula porque inexistentes a cerejas desaparecidas as andorinhas, que precisas dos raios de sol que por vezes te envio por entre os lagos que se formam no ar entre as gotas de chuva que insistem em se despedir do céu

onde estão as estações, perguntas-me?

não sei se este é o raio de sol que precisas, mas estou a escrever esta carta para ti e esta carta não tem medo e não foge de ansiedade e diz que há um caminho para ti, um caminho feito de eternidades, séculos de incêndios, fios invisíveis por tecer

o teu sorriso acende estrelas, sabias?

e hoje senti falta do teu sorriso que acende estrelas e do teu olhar e de certas palavras inventadas e gostava tanto de sentir a tua respiração embaciar o vidro da janela quebrar o mar para poder dizer-te:

o mar quebrou-se na janela mais impossível do mundo, o mar quebrou-se

e dizer-te:
alimento-me das palavras que me inspiras de cometas delicados de flores despenhadas onde tudo é potência céu alto

e:
adoro os lugares fantásticos que descubro no teu sorriso mais o exacto instante que antecede o teu sorriso, aquele em que ele começa a nascer e se deixa adivinhar mais a tua clavícula despida

não acreditas?

conheço a geografia do teu riso a transparência do teu grito interior nos dias imperfeitos e não tenho medo, nem da roupa a queimar a pele  turbulência que precede a felicidade

existes. existes. existes. não há maior excesso.

atravessei séculos de incêndios e hoje sonho contigo e não tenho medo

atravessei séculos de incêndios e hoje sonho contigo e não tenho medo de te ver chegar.

encontramo-nos em Paris. um só segundo de perfeição. um adeus eterno à chuva.a cura.

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