Agora estou dentro de ti, agora também sou tu


Contigo tenho amores havaianos em que danças para mim o ukelele nas noites de lua cheia, com soalhas nos quadris e nos tornozelos, imitando Dorothy Lamour.
E amores astecas, em que te sacrifico a deuses acobreados e ávidos, serpentinos e emplumados, no cimo de uma pirâmide de pedras ferruginosas, em torno da qual pulula a selva impenetrável.
Amores esquimós, em frios iglôs iluminados com archotes de gordura de baleia, e noruegueses, em que nos amamos enganchados sobre o esqui, despenhando-nos a cem quilómetros por hora pelas faldas de uma montanha branca erupcionada de tótemes com inscrições rúnicas.
A minha presunção desta noite, amada, é modernista, carniceira, africana.
Despir-te-ás diante do espelho, conservando as meias pretas e as ligas vermelhas, e esconderás a tua formosa cabeça debaixo da máscara de fera feroz, de preferência o tigre no cio de Ruben Darío de Azul..., ou uma leoa sudanesa.
Requebrarás a anca direita, flectirás a perna esquerda, apoiarás a mão na anca oposta, na pose mais selvagem e provocante.
Sentadinho na minha cadeira, amarrado ao espaldar, eu ficarei a olhar-te e a admirar-te, com o meu costumado servilismo.
Sem mexer nem uma pestana, sem gritar me ficarei, enquanto me cravas as tuas garras nos olhos e os teus brancos colmilhos me estraçalham a garganta e devoras a minha carne e sacias a tua sede com o meu sangue apaixonado.

Agora estou dentro de ti, agora também sou tu, amada recheada de mim.


Mario Vargas Llosa
 in Os Cadernos de Dom Rigoberto, pp. 207-208

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