Carta ao Filho
filho, já não há sangue do meu correndo nas tuas veias,
há uma humidade opaca nesta ferida,
sinto-me um sopro enchendo a fissura da rocha que sou;
filho, havia ainda um último fósforo, uma dúvida
mais transparente que o ar, a única que não pode haver
entre um pai e um filho, uma árvore ardendo
no meu amor;
filho, hoje o teu rosto parecido com o meu
perdeu os pilares que seguravam as nossas parecenças
e toda a respiração se desmoronou;
filho, meu único filho, perdoa-me hoje
o que sinto de ontem, um desamor injusto e selvagem,
cravado na memória, retroactivo;
o teu pai
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