haverá sempre as ruas em que o Porto não existiu


haverá  sempre as ruas em que o Porto não existiu

à velocidade com que te ponho nua aqui e reinvento o papel da literatura e da mulher

— e troco toda a poesia por uma vida feita de rotinas de ti

e terás sempre nome, serão sempre para ti os dias, ainda que os pássaros se calem nas persianas que se fecham atrás do mar

— e não volto a dizer amo-te

— já não me dizes amo-te

nas noites em que volto ao entardecer de signos e dedos que se tocam e perpetuam a saudade (até a que não se têm às horas certas do nada) e fazem nascer o grito e gritam o grito que fizeram nascer temerariamente, assim como quem diz amo-te digo

amo-te

tão temerariamente como se o grito parisse a noite que se pare sozinha enquanto volto ao entardecer de signos e dedos que se tocam e perpetuam as cinzas da saudade de ver nascer o mundo naquela noite em que mudei o nome a Barcelona, salvei Gaudí,  vi Istanbul como veio ao mundo 

— e sei que já não me escreves

e continuo sem saber porquê, como se precisasse de saber porque não volto a dizer amo-te, nem Istanbul, nem te mudo o nome  que os meus braços serão sempre o teu bunker, ainda que não os queiras na vertigem dos segundos em que persigo o rasto das gaivotas a apagar-se no rasto das memórias de um orgasmo que inventaste para mim enquanto te olho e penso que nunca mais digo amo-te porque a palavra já não significa nada quando se torna menor que o Amor

— e não volto a ser Fevereiro, e tu sabes porquê e não to digo, nem Março, não volto a ser Fevereiro nem Março

— serás sempre Novembro

e também não quero ser Novembro e não volto a ser Fevereiro nem Março nem BarcelonanasruasemqueoPortonãoexistiu

no suor da poesia entre as pernas, versos derrotados por cima das roupas que descobrem dois corpos esgotados pela luz num improvável campo de batalha que revela beijos tatuados por debaixo do céu da pele e que se esquecem no tremor das pernas que confirma o inevitável

— não volto a dizer amo-te…

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