Carta a Paris 16 de Março de 2015

16 de Março 2015
10:07


Está frio. O céu, imenso e de um cinza quase branco, leva-me os sentidos e a minha vontade. Ainda assim decidi ir a Paris, onde te encontrei. Estás diferente. Não passou muito tempo desde a última vez que te vi mas estás  diferente. Quem disse que diferente é mau? Não, não é. Apenas te reencontrei na morada que me deste e no cinza esbranquiçado que me envolve sem o querer,  vou eu descobrindo-te noutras cores, umas mais quentes, outras mais frias. E sem te ver, pus-me a escrever na parte vazia do coração. Decidi não apanhar o comboio, o autocarro, não, desta vez decidi ir a pé. E sentido os movimentos do meu corpo, fui percorrendo essa tua cidade onde falas genuinamente de amor, do ter sem possuir, da compreensão sem contenção.  No caminho apeteceu-me pão quente, acabado de fazer. Sem me mexer, viajei no tempo e regressei a uma geração distante mas minha. Agarrei as memórias e sem as largar senti todos os cheiros, os sons, senti em mim um tempo que embora longe, permanece sempre com carinho e alguma saudade.

Passaram 15 minutos e ainda faltam outros tantos para a massa estar pronta e ir para o forno. É assim, quando desejamos algo, mesmo que pareça interminável e tortuosa a espera,... esperamos sem desesperar, porque sabemos o que ... ou quem vamos encontrar.

Saber esperar… Ninguém nos ensina, temos nós de aprender a reconhecer os tempos, os nossos e os dos outros.

Está frio, está mesmo frio. Vou continuar a esperar e depois mando entregar quente ou morno, uma fatia deste pão. Na minha recente morada chamam-lhe castanho, é saboroso e saudável, como as recordações que nos fazem parar e querer voltar, a elas.


Vou voltar. Mas foi bom encontrar-te na partilha de um gosto comum. Foi bom viajar mais uma vez e conhecer o teu lado mais sensível, mais verdadeiro. Ainda bem que somos só alguns, os loucos, que gritam o que são e o que querem ser, sem medo de viver, de sentir.

T.

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