E no final nem o teu nome terá existido
Há
noites que são um oceano que apetece muito mas não afoga
Ouves
o vento lá fora, ouves enquanto dormes?
Não
sei se a Primavera volta para lá das rosas, não sei
Mas
parto
Deixo-te
hoje, mas já tinha começado a deixar-te há muito tempo. Fui-te esquecendo em
pequenos gestos de esquecimento, pequenos nadas
Deixo-te
e deixo-te completamente, esqueço-te, apago-te e no fim nunca terás existido. E
não haverá mais corpo para reconciliações, novas tentativas, para as promessas de
sempre. E não haverá mais sul para mensagens a todas as horas, mensagens depois do
bip, flores no tapete de minha casa, que descobrirás, e no trabalho e no carro e em todos os meus
passos.
Estou
a deixar-te. E deixo-te porque te quero deixar, porque não te quero mais, porque
sempre estiveste destinado a não teres existido. E deixarás de existir
tranquilamente e a respiração não acelerará quando te vir trazer outra pela mão,
quando me disseres olá não engolirei em seco, não sentirei o meu coração cheio
de pássaros a rasgar-me o sangue, porque no final não terás existido e não serás
tu quem vejo sempre e quem me faz correr para o telefone e ao primeiro sinal de
chuva um gostinho a ti, não
Não
será o teu nome que gritarei quando só puder gritar, não serão para ti as meias
novas, a lingerie, o cabelo por apanhar e nem os lábios pintados as unhas
pintadas as lágrimas, a boca, as mãos muito exactas, o medo, a solidão das
noites frias, de mar mais alto
E
não terás mais abraços que o teu, não será para ti a fome
Os
sonhos mais altos, as noites de maior pele, as noites de pele o desespero os
ciúmes os cabelos arrancados às horas vagas de certeza, e nem a desconfiança a
monotonia a rotina das paixões, os nãos às noites com as amigas, os nãos aos
dias com as amigas, os nãos às noites comigo aos dias comigo, os nãos
E não serás tu do outro lado da cama
Não
serão para ti as mentiras sempre que chego tarde ou não venho ou me preocupo
porque chego tarde ou não venho, e porque é que nunca quiseste saber se eu com
outro, se eu não como te contava a mentira, se eu nada com o silêncio a tornar-se
transparente.
E
no final nem o teu nome terá existido
E
sempre fui eu que te perguntei… e quando o amor acabar? E o amor acaba, embora
tu digas que não
O
amor não é uma estação que se demora nos olhos até os tornar cegos a tudo e os meus
já não têm mais Verão para ti,
Já
não é a tua a pele que mora debaixo das minhas unhas, nem teus os beijos que me
sufocam e são as minhas brasas e os meus 365 dias
Deixo-te
esta carta como deixo tudo o resto, como me deixo um pouco aqui, não por ti,
por mim, quero nascer outra e não quero nascer de ti.
Parabéns, por escreveres tão bem!! Acho que dava uma excelente letra para uma música. Adorei*
ResponderExcluirObrigado, muito obrigado!Gostei que tenhas adorado...
ResponderExcluir...Amei...o escrever correctamente e expor sentimentos...sim, de facto posso elogiar..mas mais do que isso..amei o sentimento. O conseguir transpor o sentimento...é dificil, muito dificil consegui-lo!
ResponderExcluirum abraço
Olá, Xinha!Só posso agradecer palavras tão bonitas...Bem-Vinda!
ResponderExcluirMuito bom este texto! amanhã irei partilhar :)
ResponderExcluirGrazie!Beijinho
ResponderExcluirQue dizer que já não te tenha dito... :)
ResponderExcluirLindo!
Tu é que és linda!
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