Cartas de Lille XXIII
Respirei três vezes
fundo e enviei a última mensagem para lhe dizer que nunca mais nos iríamos ver.
E pouco depois, de respiração suspensa, li aquela última resposta de
cordialidade e indiferença, toda ela carente de qualquer pontinha de despeito.
Dei por mim no sítio onde o conheci, há tantos meses atrás, e compreendi tudo
aquilo que custa compreender à luz do romance. Mas um dia o romance fica para
trás, naquela estação apinhada de gente, naquele quarto tão completamente
estranho para mim. E não nos doí quase nada, porque amor é uma outra coisa, e
debaixo de tanta crosta mal cicatrizada, fiz o que pude, dei tempo ao tempo e
decidi não o procurar nunca mais. Dizem que a vida se arruma por passos.
E no entanto, 11
meses se passaram, sob chuva constante, no passo lento de todos os meus
regressos a casa, na implacável busca de um referencial para quem, não importa
a que horas, pudesse voltar. Enterrei, uma por uma, todas as histórias. Reli
pela última vez os primeiros emails, guardei para sempre todas as lembranças
numa caixa de cartão, desfiz-me do que pudesse manter viva toda a espécie de
rancor ou esperança.
Só não sei o que
fazer contigo.
Beatriz
no maravilhoso Cartas de Coimbra, aqui.
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