segunda carta
desarranjas-me
a respiração
como
se por um segundo não houvesse terra firme para os meus pés quando
me olhas
o
sangue circula muito devagar nas veias lentas tudo descompassado, um esforço constante
para me equilibrar, um esforço constante para não parecer tão pateta como sou.
são
07:39 em algum lugar do mundo. são muitas vezes 07:39 no lugar que sou.
escrevo-te
e não sei que horas são para além das
07:39 no lugar que sou, mas sei que não é a primeira vez que penso em ti hoje: pensei
em ti antes de começar a escrever isto: agora enquanto escrevo e mesmo depois da
última letra do último ponto da última respiração sei que vou pensar em ti, por
isso esta carta não terminará na última letra ponto respiração, por isso esta
carta não terminará, nem quando a estiveres a ler e me souberes a pensar em ti,
cada palavra a pensar em ti, cada palavra a pensar que devias sorrir mais e que
se o tempo existisse para lá da solidão quieta dos relógios devia parar nos
instantes dos teus sorrisos
tão
absolutamente linda ficas quando sorris.
hoje
li a tua carta outra vez (´a primeira melhor carta de sempre`). leio muitas
vezes a tua carta. às vezes leio a tua carta para me sentir mais perto de ti,
como se a palavra escrita pudesse interromper os quilómetros a insónia a distância.
hoje li a tua carta outra vez, não me canso de dizer: a tua carta, a tua carta
que não poderia ser para mais ninguém, e eu sei que sabes disso como os
pássaros sabem da chuva: antiquíssima, misteriosa e delicadamente.
também
esta carta é para ti. e escrevo-te para que estas cartas possam ser um
bocadinho como as tuas árvores de silêncio, onde podes encontrar refúgio, árvores
de silêncio que podes cheirar e apertar contra o peito, o silêncio no meio das
palavras, a comunicação primeira.
árvores de silêncio a existir por ti.
escrevo-te
mas o que queria mesmo era coleccionar primaveras para ti segurar-te pela
cintura falar-te ao ouvido poder dizer muitas vezes tu e eu e escrever e sentir
a tua pulsação o solstício na nudez dos teus pulsos e ser Coimbra da tua
janela: a alta o pátio da faculdade de direito, pequena fábrica onde se
desenham as nuvens, as escadinhas de ruas estreitas e arcos a caminho do
rio e um esforço constante para me
equilibrar quando tu me olhas as veias todas muito devagar o sangue devagar as
constelações todas devagar e relâmpagos no peito, tudo descompassado
quando me olhas.
quando me olhas.
Comentários
Postar um comentário