qui faulta você mi faiz
Querido
não-sei-quê,
Ligou-me hoje
uma amiga a dizer que não sabe ao certo se alguma vez foi feliz.
Recebi aquela
notícia com a consternação que não pode faltar a quem quase partilha essa
dúvida alguns dias por semana, e que sabe do que se está a sofrer aqui.
Tenho desde
sempre esta ideia de ti: és uma rocha impenetrável quando sofres.
Nada disto é
bom.
Eu sei. E gostaria
de te poder contar tudo o que falámos, na língua dos fortes, mas o que é que
tudo pode ser? Não sei se pode ser, aliás. Não me peças o que não pode ser
ainda.
A poesia é na
minha vida a única maneira de apagar o escuro onde me encontras cada vez mais, e
de haver luz, onde já não me desvendas nem eu sou, não interessa quantas vezes
me chamasses sol.
O silêncio
não te faz bem, ao mesmo tempo que não somos felizes, certo?
Ou somos e
ainda não sabemos? Que isto de se ser feliz é como um escritor que escreve e não é
lido, como um músico que compõem e não é ouvido, como quem ama
e não é amado mas tu continuas a amar porque sim, a escrever, porque
sim, é esse o teu sentido. É isso que tens de fazer e pode ser que já sejas mas
ainda o ignores (ainda que duvide sempre mais que alguma felicidade possa vir
do conhecimento, parece que é assim).
Criar
felicidade é tão simples! Criar infelicidade também, só não sei se pesa mais.
Nunca
fiar. Voltemos à dúvida.
Lembra-nos
que temos a alma agarrada a tanto, por vezes, muito pouco, mas que esse pouco anima
a caminhada, Ensina-nos que melhor seja levar uma vida tocada de ouvido, ao
ritmo do que somos e desejamos ser, do que guiar-nos por uma pauta, em
segurança. Não se pode dizer tudo o que se pensa, seria dizer demais, seria
arrastar para os nossos cárceres os que amamos, mas também ganhar os seus
braços longos,
que
nos salvariam.
Não
sei o que escrevo mas escrevo.
E depois
Silêncio.
Sinto
a falta de muitas coisas
Muitas
coisas.
Sei
como comunicamos silenciosamente.
Pediram-me
que escrevesse esta carta mas não sei sobre o que quero escrever. Já tudo foi
dito alguma vez. Para mim
As
músicas já disseram tudo o que havia para dizer e mais do que isso por estes
dias não sou da música, sou do silêncio. E quando é sobre o silêncio, é sobre
nós e coisas que não podem ser ditas e coisas malditas.
Já
sei que sou a rocha intransponível, dizes-me sempre isso,
terminamos
sempre as conversas assim e eu sei que sou mas tive um tempo em que não fui.
Do
lado de cá do terrível silêncio, as tempestades continuam.
Malditas
as coisas que se dizem com silêncio e eu
Nestes
dias
Não
sou do amor, nem das cartas, nem da música, nem de Paris. Sou do silêncio. Por
estes dias, sou silêncio.
Sobretudo
o amor, não admite silêncio (e as cartas escritas a branco)
E quando
amar é silêncio…
Tu
que querias amor que fosse toalha que enxuga o suor dos dias, que fosse mão que
alivia o peso,
E só depois
fosse palavra. amor também é palavra.
e
como palavra que é, fosse canção para viveres mais canções para sermos mais…
tu.
and you ask yourself: where is your mind?
Foda-se
tudo o que está errado nas nossas vidas sobretudo se o que está errado nas
nossas vidas somos nós próprios, para começar.
Não
tenho a certeza se já fui mais feliz e não sei quando vou ser ou quando deixei
de ser
Mas a
vida é isto: a todo o tempo podemos transformar-nos em casas desarrumadas
compartimentos
cheios de tralha
avessos
por desvirar.
Está
tudo desarrumado na minha vida, e não sei se a desarrumação tem conserto.
Para
isso precisava da pontualidade de certos sorrisos…
Preciso
desses sorrisos com o futuro lá dentro.
E das
pessoas que vêm com eles
De
todas as coisas perdidas, nada me custa mais do que perder os sorrisos.
qual
é o teu próximo destino? Querem sempre que tenhamos um próximo destino.
não
quero próximos destinos!
a
vida necessita de pausas mas eu não quero outros destinos
Precisa-se
é de leis que nos obriguem a ser felizes: ministérios da felicidade!
Mas
já não quero próximos destinos.
Já
não quero, nem assim tanto como um dia quis, obrigada mas já não quero.
há
mais chuva na minha vida do que aquela que eu desejaria
há
mais frio do que aquele que eu pensaria sentir
mais
chuva
do
que aquela que o meu avesso deveria ter.
Sol.
E chuva, outra vez.
entre
o bom e o mau estará sempre a saudade os fins que não são finais.
Sempre
a saudade…
Coisas
por acontecer e
A
Felicidade.
se voltar
é porque é
feita de amor.
Maria Supertramp
maravilhoso!! vocês deveriam juntar-se pois escrevem maravilhosamente bem :)
ResponderExcluirbjo*
Sublime!
ResponderExcluir"Do lado de cá do terrível silêncio, as tempestades continuam.
Malditas as coisas que se dizem com silêncio..."
Todos temos as nossas muralhas de silêncio... :)))
ResponderExcluirPS - A Senhora Rita, agora animada pelas brisas mornas da Sicília, devia cumprir a promessa de uma vez por todas!
@Maria:Já nos juntámos e já houve (acho que ainda há) projectos para mais cartas a duas mãos...gosto mto desta nossa Maria.
ResponderExcluir@José:;)
@Angie: A Senhora Dona Rita Laranja está a precisar de uma chamada de atenção a la siciliana!;)))