A MATILDE URRUTIA
A MATILDE URRUTIA
Senhora minha muito amada, grande foi o meu sofrimento ao escrever estes mal chamados sonetos, que bastantes dores me causaram, mas a alegria de tos oferecer é maior que um pranto. Ao decidir-me a escrevê-los, bem sabia que ao lado de cada um, por afeição, escolha e elegância, os poetas de todas as épocas colocaram rimas que soaram como joalharia, cristal ou tiro de canhão. Eu com muita humildade fiz estes sonetos de madeira, dei-lhes o som desta opaca e pura substância e assim devem chegar aos teus ouvidos. Caminhando por bosques e areais, por lagos perdidos, por cinzentas latitudes, tu e eu recolhemos fragmentos de pau puro, de lenhos submetidos ao vaivém da água e da intempérie. De tais suavizadíssimos vestígios construí, com machado, faca, navalha, estas estâncias de amor e edifiquei pequenas casas de catorze tábuas para que nelas vivam os teus olhos que adoro e canto. Assim estabelecidas as minhas razões de amor, entrego-te esta centúria: sonetos de madeira que só existem porque tu lhes deste vida.
Outubro de 1956
Pablo Neruda
[oferecendo-lhe o seu Cem Sonetos de Amor]
Pablo Neruda é o meu poeta preferido!
ResponderExcluirSou a tua nova seguidora!! :)
www.escrevendoquandochove.blogspot.pt
Bem-vinda, Maria Inês!Espero que te seja agradável o ar que se respira aqui...Entretanto, vou dar uma vista de olhos ao teu!;)))
ResponderExcluirp.s.:este é um blog aberto à participação de todos os que sintam e queiram partilhar o que sentem...